Ser mãe é
padecer no paraíso... Bem, você já deve ter ouvido esta frase, não é?
Mas, ser
filho é padecer na confusão... O livro O Dilema de Marquinhos traz algo que é
típico das crianças: criar um mundo próprio em que suas fantasias erguem cada
edifício de seu entendimento, nem que para isso, tenha de fazer, digamos, umas
gambiarras imaginativas.
Vejam o meu
próprio exemplo. Quando eu tinha meus cinco ou seis anos de idade, em meados
dos anos 60, num período que a televisão era “a lenha”, em branco e preto, com
programação restrita que não passava de dez a doze horas por dia. O
conhecimento chegava até nós bem mais nas bancas de jornais do que de outra
forma. Eu achava curioso quando ia à peixaria de um senhor japonês que todos chamavam
de Japonês pesava o peixe e embrulhava em um jornal vindo do Japão. Eu achava
muito legais aquelas letrinhas desenhadas e ficava pensando: Puxa, o Japão deve
ser tudo diferente! Eles têm letrinhas esquisitas, fazem casas bonitas, as
mulheres usam roupão até de dia e agulhas na cabeça, eles têm olhos puxados...
e aí que a fantasia conclusiva da criança buscava sua lógica... E os cachorros,
os passarinhos, os ursos, os macaquinhos, todos também têm olhos puxados! Qual
não foi a minha decepção quando a minha mãe estava comprando o peixe e eu vejo
o jornal aberto sobre o balcão com uma foto grande de um policial japonês com
um cachorro ao lado... E, para o meu espanto, o cachorro não tinha olhos
puxados! Eu fiquei indignado! Não podia ser: o cachorro japonês não tem olhos
puxados? Impossível! Lá todo mundo tem! Na hora puxei a roupa da minha mãe para
que ela me deixasse falar-lhe ao pé da orelha e fiz a minha pergunta. Ela
sorriu e falou em tom professoral que eu estava enganado: cachorro era cachorro
e gente era gente. Descontente com a resposta, perguntei ao dono da peixaria:
- Seu
Japonês.
Ele apenas
sinalizou que estava me ouvindo assentindo com a cabeça.
- Cachorro
japonês não tem olho puxado?
Ele riu –
era a primeira vez que eu vi aquele homem rindo – e falou de um modo enrolado:
- Noooon
cacholo japoneis tem olho ledondo. Só gente do Japon tem olho puxado.
Eu emburrei.
Talvez esta tenha sido a frustração científica que marcou na infância. Minha
teoria havia falhado. Mas fez parte do meu aprendizado.
As crianças
são assim, tentam entender o mundo com a sua lógica, por isso, que com elas convive,
deve passar informações precisas e abandonar o terrível “porque sim”. Isso não
vai impedi-los de criar fantasias, pelo contrário, dará mais elementos para que
eles entendam o mundo em sua amplitude.
Estas
deliciosas fantasias acabaram por me inspirar a escrever O Dilema de
Marquinhos, publicado pela Editora Uirapuru. O livro conta a história de um
menino que ao querer saber sobre como os bebês nascem, ouve do amigo a velha
frase “o papai põe uma sementinha na barriga da mamãe...”. Bastou para o menino
criar sua fantasia, ainda mais quando viu a mãe comprando sementes de margaridas,
rosas e angélicas...
O Dilema de
Marquinhos está disponível na loja virtual da Editora Uirapuru em uma SUPER OFERTA!
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