Hoje é dia de reflexão! Meu pensamento do dia surgiu a partir do estudo do comportamento de certos animais que, literalmente, se drogam.
Happy-hour Animal
Nas savanas africanas da África Oriental nasce uma fruta chamada marula, fruto da maruleira (Sclerocarya birrea). Sim, a mesma fruta usada para rechear bombons, cuja cor amarela, lhe dá o nome de origem bantu.
Quando a marula atinge um grau de maturação acentuado, começa a fermentar, assim como diversas outras frutas, por causa da alta concentração de açúcares que convergem para a formação do álcool. Curiosamente, a marula ao chegar ao estômago começa rapidamente a fermentar e a produzir álcool em quantidades consideráveis, a ponto de, após a ingestão de alguns destes frutos, levar o consumidor a um estágio de embriagues elevado.
Alguns dos animais da região das savanas, que se alimentam dessa fruta, como por exemplo, elefantes, suricatos, javalis, macacos, zebras e girafas, parecem gostar mais das ações do álcool em seus corpos do que propriamente do fruto. Para se ter uma ideia cada fruto, que é do tamanho de uma laranja, é capaz de, depois de fermentado, apresentar um teor alcoólico equivalente ao de um copo de cachaça.
Certos babuínos chegam a comer até dez desses frutos de uma vez só, tomando um verdadeiro porre, algo similar a duas garrafas de cachaça pura. No dia seguinte, assim como para qualquer um que exagera no álcool, esses animais sofrem com os sintomas da ressaca.
Os macacos, mais especificamente os babuínos, são os animais que mais procuram esse fruto para o deleite, primeiro porque podem subir até a copa da maruleira e de lá colher as marulas, depois, porque adoram ficar sob os efeitos do álcool. O vício desses animais é tão grande que a maruleira está correndo um acentuado risco de extinção.
O consumo de amarulas por parte dos humanos também não foge ao gosto selvagem, a maior parte da produção é destinada à fabricação da Amarula ou Licor de Amarula.
A produção dessa bebida começou porque, em 1869, o explorador David Livingstone provou da marula em terras africanas e foi o primeiro europeu a se embriagar com os efeitos do fruto e sofrer de sua ressaca. Isso fez com que ele levasse o fruto à Europa, que rapidamente passou a produzir o fermentado que logo caiu no gosto popular.
Pode parecer estranho, mas outros animais fora da savana também têm seu jeitinho de se drogar. Nossas onças (Panthera onca), por exemplo, após as refeições normais comem certos cipós que contém alguns alcaloides que combatem alguns distúrbios gástricos e possuem efeitos depurativos que facilitam a digestão da carne que consomem. Contudo, as onças não se contentam com uma pequena quantidade desses cipós e os consomem até adquirirem um estágio de overdose, a ponto de terem sintomas similares aos usuários de drogas pesadas, como pupilas dilatadas, taquicardia e prostração. O mais curioso é que isso se torna um vício!
Os lêmures (Lemur catta), outra espécie de primata, também são, digamos, usuários de substâncias tóxicas de efeitos severos. Para se protegerem de alguns insetos e outros parasitas de pele, os lêmures capturam em meio ao solo de Madagascar certos tipos de centopeias que liberam alcaloides quando ameaçadas, como arma de defesa, evidenciando ao predador que seu gosto é muito ruim, o que faz desses alcaloides excelentes repelentes.
Acontece que a quantidade de alcaloides secretada pelas centopeias não é tão acentuada, assim, para economizar as secreções os lêmures levam as centopeias à boca e dissolvem o alcaloide com saliva para poderem passar com as mãos pelo próprio corpo. Tomados pelo efeito dos alcaloides e do desejo de ficarem “bem doidões”, os lêmures tentam diluir ao máximo essas substâncias para que possam se aproveitar da ingestão dos alcalóides que restarem na superfície do corpo da centopeia.
O aproveitamento chega a um ponto que, depois de os lêmures lamberem as centopeias, apresentarem sintomas como: olhos arregalados, pupilas dilatadas, taquicardia e coordenação motora comprometida, que os fazem abandonar as centopeias para que voltem ao seu habitat e assim, no futuro, possam contribuir uma vez mais com o vício da comunidade lêmure.
É curioso como a natureza nos dá exemplos de que várias espécies acabam adquirindo certos vícios, tais quais os seres humanos. É notório que esses animais descobriram e exploram esses vícios há muito tempo, e vem passando de geração para geração as suas descobertas.
O ser humano não é diferente e, por essa razão, também demonstra o seu instinto compulsivo. Há aqueles que sabem impor limite na ingestão de drogas lícitas, como o álcool, e outros que querem a legalização de drogas como a maconha. Daí vem a pergunta: Se com o álcool, tido como uma droga lícita, frequentemente causa mortes de inocentes no trânsito, o que deverá acontecer numa situação similar quando o motorista for alguém “chapado”?
Eu fico pasmo quando vejo que a população se mobilizar por causa da Marcha da Maconha e condenar o professor que se mobiliza por melhores condições de trabalho. Será que os professores são menos importantes que a maconha? Por que o povo não se une numa cruzada pela Educação de nosso país? Por que o povo se entrega às drogas tal qual um animal primitivo como qualquer um dos exemplos citados neste texto?
É preciso entender que a Educação é a solução para qualquer um desses problemas. Os acidentes de trânsito em países de primeiro mundo, cuja Educação é exemplar, são reduzidíssimos, principalmente os que envolvem motoristas que se excedem no consumo do álcool. Se o Brasil tivesse uma Educação de qualidade, com professores devidamente remunerados e qualificados, com escolas bem estruturadas, com uma legislação do Ensino adequada e um sistema social no qual a Educação seja a prioridade, não precisaríamos sequer de leis impeditivas de qualquer tipo.
Chega de Marcha da Maconha ou qualquer outro movimento sem propósito, chega de argumentos vazios que alegam que é para o uso medicinal, pois há várias drogas controladas, com tarjas pretas, à venda nas farmácias. Ninguém na marcha se mobiliza pela liberação da maconha como medicamento controlado, mas sim por razões primitivas e egoísta como o consumo próprio, tal qual os babuínos, lêmures e onças.
Vamos marchar pela Educação como solução para todos os problemas sociais, científicos e culturais. A sede do saber é extraordinária, ela muda comportamentos, motiva a leitura! Ler bons livros vicia! Um vício bom, que não faz mal algum! Permite viajar, entender o mundo, entender a si mesmo! Ler é um fruto da Educação, permite criar, recriar, inventar, aprender, ensinar, viajar, extrapolar os limites da imaginação, sem que para isso necessite de artifícios fúteis e banais.
E então? Vamos marchar pela Educação?
Deixo aqui o meu pensamento do dia:
“Educar vai além de passar conhecimentos, educar é um ato de preservação da espécie!”
O happy-hour dos animais.